Em recente reunião acadêmica da Cátedra Alfredo Bosi de Educação Básica, o professor Luiz Carlos de Menezes tratou dos desafios contemporâneos no contexto educacional para abordar a degradação ambiental, a exclusão social e a sucessão de guerras. No encontro, destacou-se o papel da educação na formação de uma consciência crítica e planetária entre os jovens, para que possam lidar com os problemas globais de forma ativa e transformadora.
A discussão teve início com uma reflexão sobre o lugar da humanidade no universo, destacando sua posição isolada e recente no Cosmos. A capacidade humana de compreender o passado distante e prever cenários futuros foi utilizada como analogia para questionar em que medida essas realidades estão sendo inseridas nas escolas.
A tragédia ambiental e a proliferação de conflitos armados, muitas vezes ignorados pela mídia, principalmente em países africanos, levantaram o questionamento de como integrar esses temas nas salas de aula de forma a despertar a atenção e o engajamento dos estudantes.
Foi debatida a importância de desenvolver nas novas gerações uma capacidade de ação, incentivando-as a transformar o mundo em vez de serem meras espectadoras das crises ambientais e sociais. A dúvida é se os estudantes estão sendo preparados para enfrentar esses desafios existenciais em nível planetário.
"Embora a humanidade tenha historicamente demonstrado a capacidade de modificar e transformar o ambiente ao seu redor, essa trajetória também está marcada por guerras, escravização e disputas de poder. Muitos problemas contemporâneos, como a degradação ambiental e as desigualdades sociais, não são devidamente abordados no sistema educacional", disse Menezes.
Ele ressaltou que a sociedade parece estar cada vez mais alheia a essas questões, enquanto os jovens, expostos a influenciadores que promovem temas banais, demonstram um desinteresse crescente pelos impactos ambientais e pelas relações geopolíticas. Por isso, para romper com esse ciclo de destruição, é essencial que a educação fomente uma visão acolhedora e colaborativa, promovendo um olhar de interdependência global, afirmou.
Uma questão central levantada durante a reunião foi a sabedoria dos povos originários, que possuem conhecimentos ancestrais sobre a convivência com o meio ambiente. O palestrante e os pesquisadores presentes enfatizaram que a modernidade tecnológica, "muitas vezes arrogante", poderia aprender muito com essas culturas, que sobreviveram em harmonia com a natureza por milênios.
A recente atualização da Política Nacional de Educação Ambiental (julho de 2024) reforça essa perspectiva, destacando a importância de se desenvolver ações educacionais voltadas para a prevenção e mitigação dos impactos ambientais, comentou um pesquisador.
Nesse contexto, a escola foi apontada como um espaço crucial para promover essas reflexões e práticas, preparando os jovens não apenas para o sucesso profissional, mas para uma vida consciente e responsável em relação ao meio ambiente e à sociedade. Segundo alguns dos presentes, a educação muitas vezes prioriza metas de desempenho cognitivo, como a preparação para vestibulares, em detrimento de uma formação mais ampla, que englobe as questões existenciais e coletivas.
Ao final do evento, foi enfatizado que, apesar das circunstâncias globais desafiadoras, a educação possui o potencial de reverter esse cenário. Para Menezes, a humildade é uma virtude fundamental e necessária para que a humanidade possa reconhecer suas limitações, aprender com as gerações passadas, entender as culturas originárias e incentivar as próximas gerações a serem ativas nessas disputas.
O desafio da educação, portanto, seria transformar as escolas em espaços de criação de sentido, onde os estudantes possam desenvolver uma consciência planetária e agir de forma responsável e comprometida com o bem comum, ainda que isso ocorra, em um primeiro momento, no espaço local e com medidas individuais, para depois ser ampliado.
"O futuro da humanidade depende de jovens atentos e críticos, que sejam capazes de enfrentar os desafios globais com solidariedade e empatia. A escola, portanto, precisa repensar seu papel na sociedade, não apenas como um local de transmissão de conhecimento, mas como um espaço de reflexão e transformação social", finalizou Menezes.
Autor: Letícia Campos Graciani