Evento reuniu especialistas, gestores e representantes de instituições para discutir estratégias de melhoria na formação docente e na qualidade do ensino
No dia 15 de abril, a Universidade de São Paulo (USP) promoveu o seminário "Políticas Institucionais de Pós-Graduação Voltadas ao Incremento da Educação Básica no Estado de São Paulo", organizado pela Cátedra Paschoal Senise de Pós-Graduação em parceria com outras cátedras Alfredo Bosi, Sérgio Henrique Ferreira e Ayrton Senna do Instituto de Estudos Avançados (IEA). O evento buscou refletir sobre o papel da pós-graduação na superação dos desafios da educação básica no país.
Na mesa de abertura, o reitor Carlos Carlotti destacou a preocupação da universidade com as defasagens de aprendizagem dos estudantes que ingressam no ensino superior. “Temos promovido cursos e atividades dentro da Universidade para compensar esses gaps, pois sabemos que a melhor solução não é apenas reclamar, mas sim intervir e promover ações”, afirmou. Ele ressaltou o engajamento da pós-graduação e das cátedras da USP em ampliar o diálogo com a educação básica.
A diretora do IEA, Roseli Lopes, enfatizou a urgência de tratar a educação como base para o desenvolvimento social do país. “Se não formos capazes de resolver os problemas da educação básica, o Brasil não poderá prosperar. Colocar as crianças na escola foi um avanço, mas ainda temos enormes desafios em qualidade e equidade”, alertou. Aluísio Segado, pró-reitor de Graduação, ressaltou o esforço da USP na valorização da formação docente: “Nossos 28 cursos de licenciatura [...] são capazes de formar, com grande qualidade e excelência acadêmica, 2.000 professores e professoras ao ano. Este é um grande potencial de formação e de contribuição para a educação básica do nosso estado e do nosso país. ”
Aluísio Segado, pró-reitor de Graduação, ressaltou o esforço da USP na valorização da formação docente: “Nossos 28 cursos de licenciatura [...] são capazes de formar, com grande qualidade e excelência acadêmica, 2.000 professores e professoras ao ano. Este é um grande potencial de formação e de contribuição para a educação básica do nosso estado e do nosso país. ”
A coordenadora da Escola de Formação e Aperfeiçoamento dos Profissionais da Educação do Estado de São Paulo, Daniela Tessele de Giacomo, chamou atenção para a desconexão entre a universidade e o cotidiano das escolas públicas: “Em situações de escolas menos favorecidas, que enfrentam uma pressão social maior, a maioria dos alunos não sonha com o ensino superior. Por isso, convido todos aqui a que, em qualquer discussão ou proposta — seja para a pós-graduação, seja para as licenciaturas —, pensemos no nosso aluno, aquele das escolas públicas. Um aluno que precisa de atenção para além do conteúdo, que necessita de suporte socioemocional e de uma estrutura em sala de aula que o engaje minimamente no processo de ensino e aprendizagem. Sozinho, ele não busca isso, mas é parte do nosso trabalho, enquanto gestores e promotores da educação, encontrar meios de motivá-lo e envolvê-lo em nossas escolas”.
O seminário contou com quatro mesas temáticas, a primeira abordando os desafios e perspectivas da formação continuada de professores no contexto dos programas de pós-graduação; a segunda discutiu a formação de gestores e as dimensões do ambiente escolar na perspectiva da pós-graduação; a terceira focou nos novos formatos e propostas de cursos de pós-graduação da USP voltados para as políticas de educação básica; e a última apresentou uma síntese de propostas, ações e projetos destinados à Pró-Reitoria de Pós-Graduação da USP no âmbito da educação básica. Entre os convidados estiveram Priscila Cruz (Todos Pela Educação), Paula Lozano (Universidade Diego Portales), Manuel Palácios (INEP), Bernardete Gatti (Cátedra Alfredo Bosi), Antonia Bezerra (UFBA/CAPES), Rodrigo Calado (Pró-Reitoria de Pós-Graduação da USP), Mozart Neves Ramos (Cátedra Sérgio Henrique Ferreira), Ricardo Henriques (Instituto Unibanco), Maria Sílvia Bacila (Secretaria Municipal de Educação de São Paulo), Naercio Menezes Filho (FEA-USP/Insper), Thais Cavalheri (SEE-SP), Jaana Nogueira (FGV), Alexsandro Santos (MEC), Maria Helena Guimarães de Castro (Cátedra Ayrton Senna), Antonio Carlos Amorim (CAPES), Carlos Alberto Moreira dos Santos (EEL-USP), Roseli de Deus Lopes (IEA-USP), Luiz Roberto Liza Curi (Cátedra Paschoal Senise) e o secretário estadual de Educação, Renato Feder.
Durante os debates, Bernardete Gatti, titular da Cátedra Alfredo Bosi, fez uma crítica à falta de políticas estruturadas para a formação de professores.: “Não há professores de física, filosofia, história, e quem está dando as aulas talvez o faça com muita boa vontade e esforço, precisando estudar conteúdos que não são do seu interesse. Nunca tivemos uma política nacional incisiva para resolver esse problema—apenas políticas genéricas, e por isso não vemos muitos resultados.
Ela também problematizou o atual modelo de avaliação da pós-graduação: “se tornou uma "numerologia"—começamos com uma avaliação qualitativa e terminamos com uma quantitativa. De que adiantam tantos artigos, tantas publicações? Talvez estejamos fazendo as perguntas erradas. Não se trata de defender um extremo, mas de alertar para o risco de cair tanto no excesso de pragmatismo quanto no academicismo.”
Maria Sílvia Bacila, secretária executiva pedagógica de São Paulo, defendeu programas formativos que respeitem a diversidade e a autonomia dos docente: “Não dá para nós “coisificarmos” os nossos professores como se tivéssemos uma resposta única sobre como mobilizamos os professores a participarem de uma formação. [...] Nós não somos coisas, nós somos pessoas com histórias diferentes, determinadas por questões culturais, formações diferenciadas, e que vamos para as nossas ações laborais também com essas determinações. [...] Eu acredito que um bom programa formativo precisa levar em consideração inúmeros aspectos. Em primeiro lugar, uma condição que eu penso que é inegociável: a autonomia do professor. Eu preciso considerar que esse professor é um sujeito que pensa, é um sujeito que tem uma história, é um sujeito que precisa ser um pesquisador da sua práxis, é um sujeito que produz conhecimento nas suas mais variadas formas”
Bacila destacou também o papel positivo de alguns cursos a distância: ”cursos que hoje estão aí, talvez difamados na perspectiva da EAD – mas tenho muito cuidado de falar sobre isso, porque há cursos que têm feito uma boa formação, e esses professores têm saído, muitos deles, com práticas interessantes e têm mostrado pra gente que essas formações também têm outras superações. Então, acho que a gente precisa se debruçar com relação a isso enquanto pesquisadores e sem julgamentos, né? ”
Renato Feder, secretário da Educação de São Paulo, encerrou o evento destacando a importância da parceria com a USP, especialmente por meio do Provão Paulista, programa que ampliou o acesso ao ensino superior. “Se não fosse a USP, não teríamos o Provão Paulista. [...] Hoje, 80% dos estudantes desejam continuar estudando após o Ensino Médio, um índice muito superior ao de alguns anos atrás”, afirmou. “A USP [...] é uma potência, e precisamos dela para seguir melhorando nossas escolas”.
O seminário reforçou a necessidade de integração entre pós-graduação, licenciaturas e políticas públicas para transformar a educação básica no país.
Assista o seminário na íntegra no canal do YouTube da Pró-Reitoria de Pós-Graduação - USP
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